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Diferenças e similaridades

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26/11/2024 5h00

Atualizada 16/12/2024 16h02

kamala e trump afp

Foto: AFP

Kamala Harris e Donald Trump são diferentes em tudo. Na trajetória, nas ideias, no estilo: o contraste é evidente. Harris, filha de imigrantes (acadêmicos), foi advogada criminal, elegeu-se procuradora em São Francisco e senadora pela Califórnia. Em menos de duas décadas, alcançou a vice-presidência. Teve atuação discreta no cargo, mas superou desconfianças, foi abraçada pela militância, e agora está empatada com o adversário nas pesquisas.

Já Trump é figura há muito conhecida pelos americanos: herdeiro no setor imobiliário, construiu cedo a imagem de empresário ousado, alternando bons e maus negócios, midiático e fiel à estratégia “fale mal, mas fale de mim”. Como presidente, reduziu impostos e colheu resultados: crescimento robusto e queda no desemprego. Era favorito à reeleição em 2020, mas acabou punido pela atuação errática na pandemia.

Foi no plano internacional, contudo, que Trump talvez tenha deixado a sua marca duradoura. Como primeiro ato, retirou os EUA do Acordo de Paris, um golpe contra a luta climática e o próprio sistema multilateral. E, com a ideia fixa de que o déficit comercial seria o grande vilão da economia, usou as tarifas como arma da sua visão nacionalista do “America First”, elegendo a China como nêmesis em cenário de guerra comercial que ele só agravou.

Se é claro o contraste dos candidatos, entre os eleitores não é diferente. Harris lidera nas áreas urbanas, entre os jovens (57% dos eleitores com menos de 30 anos), mulheres e eleitores com formação superior. Trump concentra sua base mais fora dos centros urbanos, lidera entre os homens, e conta com redutos fortes nas regiões mais afetadas pela desindustrialização. Nessas áreas, a falta de perspectivas e a chamada crise do fentanil, entre outras tragédias sociais, se tornam combustão para as “mortes por desespero”. Foi nessa terra arrasada que o Trumpismo fincou raízes, mudando o rumo do Partido Republicano, e mais: o movimento impulsionado por Trump redefiniu os próprios termos do embate político, ecoando até além das fronteiras.

É nesse sentido que a revista The Economist, em recente edição, destaca o que chama de “Trumpificação” da política americana. Em tom de provocação, mas com um fundo de verdade, a influente revista insinua que o Trumpismo sairá vencedor das eleições, não importa quem seja eleito em 5 de novembro.

Apesar de tantas diferenças, há um fato inescapável: o partido Democrata encampou várias bandeiras do trumpismo. O protecionismo é um bom exemplo, assim como a recente guinada na política sobre imigração. Ainda restam divergências gritantes—nos costumes, nas armas. Na economia, porém, o que temos são duas versões de protecionismo que mais se assemelham do que divergem. A embalagem pode mudar; o conteúdo, nem tanto.

João Marcelo Chiabai da Fonsecaadvogado, consultor e mestre em Políticas Públicas pela Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS) da Universidade Johns Hopkins

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