A separação entre Dudu e Leila Pereira, presidente do Palmeiras, tem todos os ingredientes de um dramalhão futebolístico de respeito: mágoas mal resolvidas, indiretas que viram manchete, e uma dose generosa de vergonha alheia servida no prato quente das redes sociais. Se fosse uma série da Netflix, já estaríamos na terceira temporada e com spin-off previsto em Belo Horizonte.
Tudo começou lá em junho de 2024, quando Leila resolveu dizer na Globo que o então ídolo palmeirense sairia “pela porta dos fundos” após negociar com o Cruzeiro. A frase, pesada como carrinho por trás em final de Libertadores, caiu mal. Dudu, que nunca foi exatamente adepto do “deixa disso”, respondeu como se responde em 2024: nos stories, com filtro, taças na mão e uma legenda de fazer inveja a roteiristas de novela mexicana. “Minha história é legítima e verdadeira, ao contrário da sua, senhora Leila Pereira. Me esquece, VTNC”. Foi aí que o ventilador ligou na potência máxima.
A torcida, sempre atenta, não demorou a entender o que aquelas quatro letrinhas queriam dizer — e, ao mesmo tempo, fingiu que não entendeu, porque todo brasileiro ama um deboche coletivo. Mas a treta subiu um nível quando Dudu resolveu transformar o barraco digital em ação judicial. Sim, ele levou o caso aos tribunais, exigindo R$ 100 mil por dia cada vez que a presidente ousar pronunciar seu nome. Não satisfeito, quer também uma retratação pública transmitida no Allianz Parque durante um ano, em looping eterno, com o texto cuidadosamente roteirizado para limpar sua barra perante a torcida. Se possível, com trilha sonora de “We Are the Champions” e fogos sincronizados.
O ápice, porém, veio com a contestação jurídica. Segundo o setorista Leonardo Barbieri, do portal Nosso Palestra, a defesa de Dudu entregou uma peça de 66 páginas — uma Bíblia jurídica, se quiserem — em que tenta convencer o juiz de que “VTNC” não é, veja bem, uma ofensa. Não, senhor. É apenas a sigla inocente de “Vim Trabalhar No Cruzeiro”. Se fosse stand-up, a plateia teria aplaudido de pé. A tese é tão criativa que merecia vaga no STF — ou no elenco de “A Praça é Nossa”.
Brincadeiras à parte (ou não), o episódio é um retrato caricato, porém revelador, da maneira como o futebol brasileiro transforma ídolos em mártires e dirigentes em vilões — ou vice-versa, dependendo da rodada. Leila, talvez embriagada pelo próprio poder, subestimou o peso emocional de um jogador que, goste-se ou não, ajudou a construir a era de ouro recente do Palmeiras. Já Dudu, mais esperto que muito atacante por aí, soube capitalizar a narrativa do injustiçado, escorando-se na idolatria para cobrar caro — literalmente — por qualquer arranhão em sua imagem.
No fim, o processo se transforma num espetáculo à parte, um teatrinho em que o jurídico vira roteirista, a torcida vira plateia, e a rivalidade institucional ganha os holofotes que deveriam estar no campo. Quem ganha com isso? Ninguém, talvez. Mas que rende boas risadas, ah, isso rende.