O novo presidente da CBF, Samir Xaud, começou sua gestão com uma medida que atende a um antigo pedido de clubes de elite: a redução do número de datas destinadas aos campeonatos estaduais. A partir de 2026, as competições terão apenas 11 períodos reservados no calendário oficial, contra os 16 que vigoraram neste ano.
A mudança, embora bem recebida por boa parte dos clubes, causou resistência em algumas federações — especialmente a Federação Paulista de Futebol, uma das mais afetadas pela nova configuração. Ainda assim, todas terão que se adequar. A decisão faz parte de um projeto maior de reorganização do calendário e do sistema competitivo do futebol brasileiro, que já começa a apontar para o próximo o: a criação de uma quinta divisão nacional, a Série E.
A proposta da Série E — também chamada de Série R por alguns dirigentes — não é nova, mas ganha força justamente como uma possível compensação à redução dos estaduais. Ao enxugar torneios locais, a CBF abre espaço para ampliar o calendário nacional, dar mais visibilidade a clubes do interior e integrar centenas de equipes hoje relegadas ao limbo entre estaduais esvaziados e inatividade.
A proposta seria reduzir drasticamente a Série D de 64 para 20 clubes, como é a Série C. E a Série E teria 64 clubes. Assim, seriam 20 vagas a mais em divisões nacionais.
Exemplos na Europa
No Brasil, mesmo com mais de 700 clubes profissionais e semi-profissionais em atividade, apenas quatro divisões estão conectadas ao sistema nacional. Países como Inglaterra, Itália e Alemanha operam com estruturas de 8 a 11 níveis hierárquicos, com o e rebaixamento em todas as pontas. O Brasil ainda engatinha nesse modelo — e já deveria estar mais avançado.
Com uma Série E, o futebol brasileiro pode finalmente começar a construir uma base sólida e inclusiva, capaz de: estimular a profissionalização da gestão em pequenas cidades; manter jogadores, técnicos e comissões técnicas em atividade durante todo o ano; reduzir a dependência de verbas públicas, sobretudo em municípios do interior; e estabelecer uma ponte real entre os estaduais e as divisões nacionais já existentes.
Hoje, a maioria dos clubes pequenos joga por dois ou três meses no ano e depois fecha as portas — à espera do estadual seguinte. A Série E seria uma alternativa concreta para manter essas agremiações vivas, treinando, jogando, revelando talentos e fomentando as economias locais.
O próprio Samir Xaud já indicou que pretende adotar uma gestão aberta ao diálogo e sensível à realidade dos clubes fora do eixo Rio-SP. Em seus primeiros encontros com dirigentes, ouviu demandas por mudanças estruturais e acenou positivamente à criação de novas competições que atendam clubes de menor expressão.
Rogério Siqueira, representante dos clubes da Série D, manifestou otimismo com o novo momento. “Os clubes são a base do sistema e precisam ser parte efetiva da construção das soluções”, afirmou.