Por Nathalie Nunes Freire Alves – CRP 01/14010
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Análise do Comportamento (AC) são abordagens psicoterapêuticas com origens semelhantes, mas que se diferenciam em seus fundamentos teóricos, foco terapêutico e forma de intervenção.
Principais características:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
- Foco: Processos cognitivos e a relação entre pensamentos, sentimentos e comportamentos.
- Explicação: Internalista e mediacional, levando em conta emoções, cognições e interpretações.
- Princípios: Integra cognição e comportamento, considerando que os pensamentos influenciam diretamente as ações.
Análise do Comportamento (AC)
- Foco: Relações funcionais entre o comportamento e seus determinantes ambientais (variáveis de controle).
- Explicação: Contextualista, funcionalista e selecionista, priorizando a interação entre organismo e ambiente.
- Princípios: Considera eventos privados (pensamentos, sentimentos) como comportamentos em si, e não como causas do comportamento.
Abordagem da TCC
A TCC busca compreender como o indivíduo interpreta o mundo e reage a ele, analisando a conexão entre pensamentos, sentimentos e comportamentos. Ela baseia-se nas teorias cognitivas, especialmente nas formulações de Aaron Beck, e interpreta o comportamento humano como consequência de influências cognitivas. Ou seja, eventos externos desencadeiam pensamentos, que geram emoções e, por fim, comportamentos.
O foco da TCC é identificar esquemas cognitivos disfuncionais e promover a reestruturação cognitiva. A ideia central é: um acontecimento gera um pensamento, que desperta uma emoção e influencia o comportamento. Assim, ao modificar pensamentos, torna-se possível transformar comportamentos e emoções.
Abordagem da Análise do Comportamento
A AC tem como base o Behaviorismo Radical, formulado por B. F. Skinner. Para essa abordagem, o comportamento humano é função de variáveis ambientais que o selecionam, modelam, mantêm e contextualizam. Essas relações são descritas em termos de contingências (por exemplo: “se isso acontecer, então aquilo ocorre”).
Existem três tipos principais de contingências:
- Filogenéticas: explicam respostas inatas e herdadas;
- Ontogenéticas: referem-se às aprendizagens individuais ao longo da vida;
- Culturais: envolvem práticas sociais e verbais compartilhadas em grupos.
Para a AC, mudar o comportamento exige identificar e alterar as contingências que o mantêm. O psicólogo analista do comportamento atua justamente nesse ponto: ao modificar o ambiente (físico ou social), promove mudanças comportamentais sustentáveis.
Eventos privados e emoções
Na TCC, emoções são diretamente associadas aos pensamentos e interpretações de cada pessoa. Emoções negativas, por exemplo, são vistas como resultado de pensamentos disfuncionais. A intervenção, portanto, busca alterar essas cognições para promover mudanças emocionais e comportamentais.
Já a AC considera emoções como comportamentos respondentes — respostas fisiológicas a estímulos ambientais — que podem ser condicionadas e modificadas. Emoções e sentimentos, nessa visão, não são causas do comportamento, mas manifestações físicas que ocorrem em contextos específicos. Desse modo, não se tratam de fenômenos mentais distintos do comportamento, mas sim de partes dele.
Enquanto a TCC enfatiza os processos cognitivos ligados às emoções, a AC foca nas relações funcionais entre o indivíduo e o ambiente. Ambas reconhecem a importância das emoções, mas a forma de compreendê-las e tratá-las difere significativamente.
Objetivos e intervenções
Apesar das diferenças teóricas, TCC e AC compartilham o objetivo de promover o bem-estar psicológico do indivíduo. Ambas visam transformar comportamentos, melhorar a qualidade de vida e estão fundamentadas em evidências científicas.
Na prática:
- A TCC utiliza técnicas para identificar e modificar pensamentos disfuncionais, promovendo uma reestruturação cognitiva.
- A AC realiza uma análise funcional do comportamento e altera as contingências que mantêm os padrões indesejados.
Ambas demandam colaboração entre terapeuta e paciente, são estruturadas, trabalham com metas específicas e contam com ampla validação empírica.
Importante lembrar: mais do que a escolha da abordagem, o essencial é reconhecer que a psicologia é uma ciência, e a técnica, uma ferramenta para promover mudanças efetivas.
Até a próxima!
Referência:
Skinner, B. F. (1991). Questões recentes na análise comportamental. Campinas, SP: Papirus.